Apesar do crescente interesse do mercado chinês pelo produto brasileiro, as dificuldades logísticas continuam sendo o principal obstáculo à expansão das exportações de frutas para o país asiático. Longas distâncias, ausência de rotas marítimas diretas e custos elevados de transporte comprometem a competitividade das frutas frescas produzidas, principalmente, no Nordeste do Brasil.
Esses desafios ficaram ainda mais evidentes durante missão comercial à China, realizada de 12 a 19 de maio e organizada pela Abrafrutas (Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frutas e Derivados), em parceria com a ApexBrasil. A ação integrou o projeto “Frutas do Brasil” e teve como foco estreitar relações comerciais e mapear oportunidades para frutas como melão e uva, que já possuem autorização para entrada no mercado chinês.
A delegação brasileira reuniu representantes de toda a cadeia produtiva — de produtores a operadores logísticos — e contou com a participação da nossa diretoria aqui da FTrade, responsável pela primeira exportação de melão brasileiro à China em 2020.
Tempo de trânsito até a China
Segundo Zakaria Benzaama, COO da FTrade, o gargalo logístico ainda limita fortemente o crescimento dessas exportações. “O interesse chinês existe, mas a logística é o maior desafio. Hoje, o melão sai do Nordeste por rodovia até o Porto de Santos, o que gera um custo de mais de R$ 25 mil por contêiner no custo do transporte. Isso inviabiliza grandes volumes”, afirma.
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Além dos altos custos e da distância, o tempo de trânsito marítimo na exportação de frutas representa outro entrave importante. No caso do melão, são cerca de 30 dias de viagem, exigindo planejamento preciso. “Precisamos abastecer os portos entre janeiro e fevereiro para garantir que a fruta chegue ao destino com qualidade durante a janela de comercialização”, explica Zakaria.
Comportamento do consumidor chinês
A missão também teve como objetivo compreender o comportamento do consumidor chinês e identificar formas de adaptação da produção, da embalagem e do marketing brasileiros às exigências locais. Durante a agenda em Xangai, visitamos distribuidores, atacadistas, redes varejistas e importadores.
“Na China, a fruta é um presente de luxo. É vendida com embalagem individual, com laços e visual refinado, quase como uma joia”, relata Zakaria. Plataformas como TikTok e Kwai também desempenham papel crucial na promoção. “A compra é digital, mas a decisão é emocional. Precisamos adaptar também nossa comunicação por aqui”, afirma.
Exportação de frutas brasileiras: potencial promissor
Apesar das dificuldades logísticas, o potencial da exportação de frutas brasileiras para o mercado asiático é promissor. O Brasil, terceiro maior produtor de frutas do mundo, ainda ocupa apenas a 24ª posição entre os exportadores. Em 2022, 85% das exportações brasileiras de frutas frescas foram destinadas à União Europeia (58%), Reino Unido (15%) e Estados Unidos (12%). A diversificação geográfica dos destinos é, portanto, uma oportunidade clara.
A China, com sua crescente renda per capita e uma elite consumidora estimada em 400 milhões de pessoas, desponta como um mercado estratégico. Hong Kong demonstra apetite por todas as variedades de frutas, enquanto o mercado continental tem foco em melão e uva.
Oportunidades para a uva
Além do melão, a uva brasileira — com exportação autorizada em novembro de 2024 — surge como mais opção promissora por sua resistência ao transporte de longa distância. A missão identificou ainda uma janela estratégica de exportação entre outubro e janeiro, período de baixa oferta no mercado chinês.
Estuda-se também o uso da rota marítima que inclui portos nordestinos como Suape (PE) e Salvador (BA). Embora promissora, essa rota ainda não está consolidada para frutas. “Temos uma fruta de excelente qualidade e um mercado interessado, mas sem uma rota direta a conta não fecha. Precisamos engajar os armadores e operadores logísticos para viabilizar uma escala regular e eficiente”, reforça o nosso CEO.
Outras frutas podem entrar na lista
A China já sinaliza interesse em ampliar a lista de frutas autorizadas, com o limão tipo taiti entre os próximos candidatos. Produtos como maçã e manga também apresentam alto potencial de aceitação. “Nossa fruta é mais doce, mais crocante e tem mais cor que a concorrência asiática. Se toda a cadeia — do produtor ao exportador — comprar esse sonho e se adaptar, temos chance real de conquistar esse mercado”, diz Zakaria.
Continuaremos apoiando os produtores na busca por soluções logísticas sustentáveis e competitivas. Entre as prioridades estão a redução do tempo de trânsito, a consolidação de cargas e o estabelecimento de parcerias com armadores. O investimento em infraestrutura será essencial para superar os gargalos e tornar o Brasil um player relevante no disputado mercado asiático de frutas frescas.
“A missão foi um passo importante para entender o mercado, se adaptar e começar a negociar. Agora, é trabalhar para que a fruta brasileira chegue ao consumidor chinês com a qualidade que ele exige — e com o valor que ela merece”, conclui Zakaria.